Era uma vez uma região fictícia na qual os habitantes viviam a guerra, a fome, o genocídio. Uma região belicosa e em constante litígio desde eras imemoriais. A emancipação dessa região ocorreu por derramamento de sangue, em confrontos separatistas, ostentada pela bandeira da esperança, paz e igualdade social.
A intolerância étnica e cultural permaneceu por muitos anos, marcando a ascensão de líderes carismáticos. O tempo nessa região litigiosa corria com mudanças abruptas, visando seu fim. Líderes que impulsionavam a logística e as negociações armamentistas, em suas ausências emocionais, refletiam uma voracidade felina para com seus adversários. Até mesmo representantes do seu próprio povo que se mostravam rebeldes e opositores de suas empreitadas macabras, eram duramente reprimidos.
As guerras persistiram, alimentando os gozos vorazes de seus algozes. Tanto um lado quanto o outro tem em comum o ideal da vitória, da fama, do poder, da afirmação beligerante e de potência destrutiva, usando seus adversários como objetos para obtenção do poder.
Ganhar a guerra? Demonstrar força em detrimento de seus oponentes? O frenesi do instante efêmero em que o grito de vitória reverbera lancinante, cortando a leve brisa de outono. Mas e depois? E quando a guerra acaba?
Vem a paz! E a conseqüência da paz, é a rotina, a imobilidade, a paralisia... Cadê o movimento, o combate investindo a queda da figura do inimigo? O ideal da paz?! Uma coisa é combater em favor de um ideal, do ideal da instalação da paz.
Mas e quando a paz realmente chega e substitui o ideal pela concretude imóvel da realização? Decreta-se a morte do ideal? Obter o ideal é matá-lo? É matar o movimento que busca esse ideal?
...Era uma vez uma região fictícia onde a paz reinava. Seus habitantes entediados, fumando seus cachimbos, deslocavam languidamente seus corpos pelas flores e gramados suavemente aparados.
A monotonia dos dias perpassa como se o tempo não passasse. A ausência de tempo é o atemporal. A inércia é um sucedâneo do tempo, imóvel. Mas, num clarão repentino, novos ânimos inspiraram os habitantes dessa região, quando um estranho forasteiro trouxe uma mensagem auspiciosa cujo conteúdo falava de uma tal "guerra".
Ouviram essa palavra absolutamente desconhecida, que até então não saiu dos lábios nem da caneta de nenhum homem. O entusiasmo se generalizou. Mesmo que assustados, houve uma possibilidade vívida de que essa obscura palavra, proferida por um forasteiro, pudesse nomear a esperança de novos ares.
Os dias que se seguiram foram ocupados por um intenso movimento em que a separação de dois grupos adversários, preparados e organizados, ostentando a bandeira com a ideologia da "guerra", começou a combater entre si, visando a obtenção desse nome que veio como promessa de por um fim à condenação da paz, ao genocídio da monotonia.
E a guerra se seguiu, dias e noites, visando sempre a palavra "guerra" como ideal mais nobre a ser impulsionado, contra os inimigos vestidos com o manto branco da paz.
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