Fico surpreso, e até com medo de ser também virado ao avesso pelo poder de fixação dos discursos eleitos como hegemônicos. Na origem etimológica do verbete “patológico”, que a medicina incorporou em sua nomenclatura como sinônimo de doença, “pathos” significa, em grego, paixão, afeto. Então, pathos logos é apenas uma lógica afetiva, uma lógica do apaixonamento. Pático, patético, passional... Claro que na razão grega, a paixão prefigurava um entorpecimento da capacidade humana de liberdade (não esquecendo que a democracia grega foi esculpida pela escravidão).
A palavra estética, por exemplo, não é um ideal do belo, mas sim apenas o sublime da manutenção e transformação da vida. Estética vem de “estesia”, que é o oposto de anestesia, essa sim, apesar de útil nas cirurgias, um vilão do entorpecimento da alma, porta bandeira da insensibilidade humana.
Outra, que não chega a ser vítima das deturpações, é “poiésis”. Como “poiésis” significa a potencialidade do existir, a mutação cotidiana que todo, sem exceção, exemplar de ser humano precisa para sobreviver nessa selva de pedra, faz do mais matuto indivíduo, que não se afogou nas armadilhas da anestesia, um poeta nato.
Penso que a morte, que o discurso médico exorciza (mesmo se afirmando não religioso... Estranho!), vem antes da vida, pois é só com as potências da morte que a vida floresce. Eros é síntese. Tânatos (morte) desfaz os nós fixos que amortece, que o amor tece para que este seja reinventado e adquira multiplicidades nômades. O erotismo é a polimorfia da vida. Se Eros se fechar em fetiches, fixações e sínteses, deserotiza-se e encapsula a vida. A errância poética, desenraizada, erotiza a vida, pois o erógeno, não fixo, é inesgotável fonte de ficção.
escrito por Alex Azevedo
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