Em seu reino, o rei Florêncio atravessava dias sem cor. A fauna e a flora desse reino foram desbotadas por uma enigmática clareira que se formou no centro do palácio. Ao contrário do que a lógica aponta, essa clareira não iluminou o reino, mas sim o fez escurecer gradativamente até quase apagá-lo do mapa, engolindo-o em trevas.
Uma névoa de forte claridade desceu das montanhas geladas e reduziu as esplêndidas nuances de cores ferventes, numa morna escala de cinza. A princesa Mércia que cantarolava em círculos com suas filhas, tomada de espanto, soltou-se das mãos das crianças e, como que se engasgando com o ar, levou uma das mãos à boca. Já as meninas, maravilhadas que estavam com os tons cinzentos, preencheram o espaço vazio da ciranda - ocupado pela ausência da mãe - e entoaram cânticos em reverência ao fenômeno inusitado.
Para elas, o colorido não havia as abandonado, pois pela primeira vez, entraram em contato com uma palheta de variações do cinza que antes não existia. O rei Florêncio, surpreendido pelo comportamento das netas, substituiu o pavor que o engessava pela livre curiosidade infantil. Aproximou-se da clareira enegrecida, tocou-a e teve a experiência de uma mágica transformação dos pigmentos de sua pele de ancião, rejuvenescendo. Com isso, e por ser um monarca astuto e ousado, decidiu polinizar as cinzas flores do seu jardim com a névoa estrangeira.
Quando as novas plantinhas nasceram e floresceram, embora ninguém visse mais beleza nas cinzentas flores, as crianças cada vez mais cantaram em torno daquelas que foram relegadas à margem do reino.
Com o passar do tempo, a alegria das crianças contagiaram os adultos que viram pela primeira vez o colorido das flores e sentiram seus magníficos perfumes... Apesar delas jamais deixarem de ser apenas cinza.
ESCRITO por ALEX AZEVEDO DIAS
Um comentário:
Como é bom ler um blog de contos! Ainda mais quando estes são muito bem escritos!
abraço
Carol
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