segunda-feira, 25 de maio de 2009

A Paixão: Um Fantasma Objetal.

A partir do que Lacan enunciou, afirmando que o Outro não é a imagem refletida no espelho, mas sim o próprio espelho, podemos pensar que o Outro é o contorno significante do furo dessa imagem, regulando a realidade do desejo.Sendo assim, quando o sujeito se apaixona, numa incomunicabilidade fundamental, por não haver outro sujeito, é o objeto fálico que se presentifica. A paixão não é pelo outro, mas pelo objeto que esse outro supostamente pode oferecer. O objeto não é nem do Outro, nem do sujeito, mas se depreende, cicunscrevendo como furo significante, a falta fálica que é a própria substância do objeto, a castração por não ser total para o campo do Outro.
O furo do objeto, como suporte da falta, internalizado subjetivamente, é o que o sujeito, numa projeção fantasmática, identifica como estando no outro imaginário, como aquilo que o outro pode oferecer para substituir a perda simbólica na dimensão Outra do inconsciente.O objeto está fixado na estrutura da linguagem, na alteridade simbólica do inconsciente, regulando o circuito pulsional. O que se desloca são os envelopes significantes, as nomeações que presentificam o objeto, como numa cadeia metonímica.
É nessa operação, submetido ao gozo da paixão, que o sujeito pega emprestado, apropria-se do nome do Outro, envelopando a evanescência do objeto, revestindo a castração com esse envelope significante do nome do Outro. Com esse envelope nominal, o sujeito passa a acreditar que o objeto veio do representante imaginário do Outro, os outrinhos da fantasia, como aquilo que esse outrinho ilusoriamente ofertou na direção do seu amor, que se traduz pela função do sintoma.
Só que o Outro transmite significantes, que ultrapassam o sujeito em sua constituição, e não objetos. Seus significantes encobrem, fantasmaticamente, o furo inscrito pela falta do objeto, na subjetividade do sujeito. Porém, no ato de velar a falta, esta revela-se nos interstícios significantes, estando o significante fálico, o significante da falta de um significante no campo do Outro.A paixão se dá por uma alienação ao gozo objetal, por um recorte, por uma pulsão parcial que possibilita que o sujeito se deixe capturar por esse recorte do Outro.
O que desliza não é o objeto, mas sim o posicionamento de significância do sujeito diante desse objeto. O sintoma, irremovível em seu artifício desejante, estruturando as ficções simbólicas de um sujeito, quando desloca, incluindo o analista, no dispositivo clínico, não faz deslizar o objeto, mas sim os significantes que permitem a emergência desse objeto suporte da falta, envelopando-o.Na paixão, com os (des)encontros libidinais, o objeto do campo do Outro se torna instrumento para alavancar o mais-de-gozo do sujeito. Mas é o objeto que captura o sujeito, como suporte da falta de um significante que dê conta da não relação sexual. O Outro, como suporte que emoldura o especular, faz o sujeito gozar com a imagem de si refletida, no escopo narcísico da paixão.
Na paixão, o nome da série de outrinhos imaginários, do rapaz ou da mocinha, desliza na sucessão significante que envelopa o brilho fálico do objeto. Nessa repetição obturada pela paixão, em que o "mais um" causa o que se presentifica da falta estrutural do sujeito, é diferente da angústia da falta na castração, que convoca o sujeito numa retificação de sua demanda, no processo de análise.
Na paixão, o furo comparece justamente na dimensão daquilo que preenche a falta fálica do sujeito, estando o narcisismo enquanto fina película encobridora da castração. Mas a castração da diferença sexual é intrínseca ao posicionamento do sujeito, sempre articulando o narcisismo à ferida, à escolha objetal: "Nasce-um-cismo"!
Então, para concluir, já num para-além da problemática da paixão, Lacan diz que a angústia não é sem objeto. Mas um objeto como moldura das fixações pulsionais, subsumido em sua natureza. Mas a angústia, como conseqüência objetal, permite, na constituição do sujeito, uma mobilização das nomeações do objeto, como deslize do sintoma, incluindo-se à figura do analista. Então, não é o objeto que se desloca no processo de luto suscitado pelo dispositivo analítico, pois o objeto continua lá, como adesivo de gozo para um sujeito. O que desliza, como deslocamento sintomático, são os nomes atribuídos ao objeto. É a metonímia.

Texto escrito por Alex Dias.

5 comentários:

Unknown disse...

Alex, gostei muito do seu texto, como tb dos outros que hoje tive a oportunidade de conhecer. Achei muito interessante... Parabéns.
Vania

Paula Calixto disse...

Esse espelhamento é A base dos entre-laces. Sem isso não há nem espelho -- não há humano.

Como bem disse Lacan em suas elocubrações: Amor é transferência. Nem mais, nem menos isto.

Por mais doloroso que seja ver-se e buscar-se SER o elo, elo-si-dar é a arte da via-Vida.

Beijos.

Fernando Marcellino disse...

Diria, com Lacan e Hegel, que o amor é a metonímia infinita de dar o que não se tem... para quem não o quer... para o sujeito de suposrto saber...

Mônica disse...

Quando me apaixono por alguém é porque me identifico no outro. Habita no outro o meu desejo, o desejo de SER e é através desse outro que procurarei a satisfação desse desejo. Na verdade eu não amo o sujeito dele e sim o sujeito que eu vejo nele, com todas as minhas impressões do que seja bom pra mim. Daí ser tão fácil me decepcionar com esse amor depois de um tempo, quando ele passa a demonstrar como é "realmente" e que em muitos pontos não corresponde ao meu ideal. Aí, desinteresso-me e procuro outro onde esse meu desejo caiba novamente.

Mônica disse...
Este comentário foi removido pelo autor.