- O que é isso? Será que existe?
Nenhuma resposta foi ouvida do outro lado.
- Não é uma coisa. É uma pessoa. Você parece alguém... Mas quem?
O silêncio continuou imperativo. Nada foi escutado. A não ser o mesmo silêncio que, em seu aparente vazio, talvez estivesse dizendo algo.
- Eu me vejo aí! Mas, ao me ver, não sou mais eu quem olha. O olhar que eu vejo é apenas um furo pelo qual nada vejo do outro lado.
Perante tantas questões formuladas, a imagem sorriu para seu interlocutor – complacente – compreendendo que quanto mais pensava, mais o insolúvel conflito se impunha.
- Por que você não fala comigo? Ou você fala, e eu que não a ouço? “... a ouço...” Estou falando no feminino, como se fosse para uma mulher. Será que você é uma mulher?
- Não sou o que você quer nem o que pensa que eu seja! – Manifestou a suposta interlocutora.
- Você fala! Estou ouvindo agora...
- ...
Diante do retorno da falta de som, insistiu para que houvesse uma nova manifestação do outro lado:
- Por que voltou a se calar? Falou por um instante só para me deixar desejante? Acha que eu não pude ouvi-la da maneira que gostaria? Desculpe-me por não a ouvir como você merece.
- O que quer de mim?
- Não quero mais! Já consegui o que queria... ouvi-la novamente.
- Não fale comigo como se eu fosse uma mulher! Não tenho sexo. O que sou não me dá o luxo de ter alguma coisa.
- Como não?! Você tem a voz, você fala...
- O que você ouve não sou eu que digo.
- Esse som não é de sua voz?
- Não há som. Você está lendo. São só palavras escritas.
- Eu a ouço, não pode negar.
- Você ouve o seu som. Está lendo em voz alta.
- Esse não é o som da minha voz. Eu não falo assim!
- Você que pensa... Já ouviu o som da sua voz por ouvidos que não são seus?
- É claro que não! Senão, não poderia estar me ouvindo, se os ouvidos com os quais escuto, não fossem meus.
- Você acabou de negar a minha existência. Você não pode estar me ouvindo, pois os ouvidos que me escutam, não são seus. Eu ouço você. Ouço a minha própria voz.
- O que quer de mim? Não posso respondê-la.
- Você não pode se ouvir...
- ...
Na falta de resposta de quem começou o diálogo, do outro lado, continuou sozinha:
- Ei! Para onde você foi? Cadê você? Eu não queria assustá-lo! Perdoe-me os maus modos.
O silêncio não foi quebrado.
- Não é uma pessoa. É uma coisa. Isso parece algo... Mas o quê?
Apenas um ruído de folhas amassadas foi ouvido.
- Eu não me vejo aí! Por não me ver, eu sou quem olha. O olhar que eu não vejo, é tela preenchida de letras mortas.
(...)
Cansada, fechou o livro e foi dormir.
9 comentários:
No final descobrimos sempre nossas neuroses através dessas mesmas imagens que nos identificamos. Neuroses... Neuroses... Estamos sempre cheios delas. Mas pelo menos as deixamos para trás, diferente das psicoses. Belo texto man!
De início imaginei que fosse uma conversa com o EU do outro lado do espelho. Depois a coisa foi clarificando e percebi se tratar de um encontro consigo mesmo, ao buscar respostas em leituras.
Interessantíssima a associação! Mais um conto de cair o queixo...
isso sao as nossas conversas no msn... hahaha
PELO CONTRARIO MEU CARO!! POR TER UM VOLUME A MAIS NO GAVIÃO, ELA NAO FICA COLADA AO CORPO E A PELE RESPIRA MELHOR, TRAZENDO A SENSAÇÃO DE CONFORTO...ABRAÇOS
Bom, eu acho que a melhor forma de facilitar um comentario é colocar ele sem codigo de verificação abaixo....
agora se tem outra forma nao sei...rsrs
Obrigada pelo seu comentário e concerteza olharei a entrevista :)
Questões assim me intrigam. Será que o meu azul é o mesmo que o teu? Certa vez um amigo me respondeu: Enxergamos o mesmo azul, só que em tons diferentes. Foi um momento muito especial.
Nenhuma pessoa vê nada da mesma forma, por isso você deve preservar sua opinião.
Amigo visite:
garotoforense.wordpress.com
(arte digital)
garotoforense.tumblr.com
(musica cinema tv)
Alex, obrigada pelo comentário no Teoria do Playmobil, vim retribui-lo e dizer que você analisou o conto com maestria! Compreendendo exatamente o que eu quis passar!
www.teoria-do-playmobil.blogspot.com
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