sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Institucionalização: O que é isso?

Será que há unanimidade no uso do conceito "institucionalização" como articulado ao âmbito do movimento antimanicomial? O argumento, com sua coerência, é que o individuo permanece constrangido e confinado num espaço exíguo, sendo eternamente cuidado ou desprezado. O indivíduo asilado e isolado, institucionalizado, pode degenerar, perdendo suas características e identidades.

Mas generalizar a reforma psiquiátrica, também é um modo perverso de verticalidade e de uniformização dos indivíduos. Instituição não é sinônimo de institucionalização. Muitos sujeitos psicóticos, impossibilitados de se situarem numa referência subjetiva, às vezes, com sacrifício e esforço, conseguem adotar, eleger um pequeno pedacinho, um cantinho dentro de uma instituição psiquiátrica. Esses sujeitos tiveram um raro encontro com um lugar para si, impossibilitados de um lugar simbólico, construíram um lugar real na instituição. Eles não estão institucionalizados, estão apenas acolhendo suas subjetividades, e isso é fundamental.

Mas pensem só... Na maioria das vezes, nós nem precisamos estar em instituições para sermos institucionalizados. Vivemos alienados em discursos hegemônicos, repetindo padrões de beleza, na ditadura da moda, no consumismo desenfreado, alucinante e aprisionante. Enraizados em significados e sentidos absolutos, desvitalizados. Repetir as palavras e afetos moralizantes, adestrando e docilizando a virulência da vida pulsional e erógena do homem. Vivemos em função dos ditames previamente concebidos, reféns da irresponsabilidade pelo ato de cada um, em fuga, vitimizados pelo Outro que não é nada além de nós mesmos. Não sabemos viver para além das cadeias repetitivas, desatualizadas, em rotinas cotidianas, roteirizadas. Não são essas coisas todas, que vivenciamos no nosso dia a dia, o maior perverso exemplo de institucionalização? E nem estamos numa instituição física.

É disso que Foucault falava, sobre nossa institucionalização diária, na biopolítica, uma condenação de liberdade, uma espécie de prisão domiciliar, internalizada, individual, capitalizada. Não será esse discurso da reforma psiquiátrica, a repetição da forma, uma re-forma? Mudou a roupagem, o vestuário, o invólucro, mas a forma, a fôrma, persistem.

É de uma outra institucionalização que se trata. O que se trata? Trata-se da institucionalização, ou do sujeito que sofre? Tratar – Contrastar – Contratar – Destratar – Tratante - Traste. O que se trata é da manutenção da institucionalização.

texto escrito por Alex Azevedo

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